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NEUROARQUITETURA E O AMBIENTE ESCOLAR

Por Miriam Runge (Arquiteta e Urbanista)



Miriam Runge é Arquiteta e Urbanista, possui MBA em Neurobusiness, Master em Neuroarquitetura, especialista em Design de Mobiliário e Docência para o Ensino Superior. Leia a bio completa no final deste artigo.
Miriam Runge é Arquiteta e Urbanista, possui MBA em Neurobusiness, Master em Neuroarquitetura, especialista em Design de Mobiliário e Docência para o Ensino Superior. Leia a bio completa no final deste artigo.

O ambiente pode impactar na concentração e aprendizado? Segundo os quatro pilares que a UNESCO defende como essenciais no aprendizado e edificação do ser humano, a escola precisa ser um espaço de incentivar a “aprender” e a “fazer” como pilares estratégicos do desenvolvimento, mas também incentivar a “ser e a estar”.


Os espaços escolares portanto devem buscar as melhores práticas e estratégias na promoção destes quatro pilares, qualificando o crescimento emocional, cognitivo e social de todos os alunos, e neste contexto, o projeto arquitetônico deve contemplar as características estéticas e funcionais necessárias de uma edificação, mas também buscar atender às expectativas e necessidades de seus usuários para a qualidade de vida, saúde e o bem-estar priorizando os objetivos da educação que consiste em apresentar projetos para contemplar todos os estágios de vida do ser humano.

O espaço educacional precisa representar segurança, interação, e estimular a concentração em sua essência, mas também precisa desafiar e motivar a busca por respostas na utilização da criatividade para solucionar problemas e desafios constantes relacionados ao aprendizado: não apenas de conceitos fundamentais, mas também sociais e pessoais do aluno como indivíduo construtor do seu próprio futuro na sociedade.


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É através da percepção humana que os estímulos presentes no ambiente são recebidos por meio dos sentidos, sendo os principais e mais conhecidos a visão, audição tato, olfato e paladar. Porém, existem muitos outros sentidos que impactam a percepção como a termocepção que permite a noção de temperatura, a propriocepção que permite o entendimento do corpo físico no ambiente, o equilíbrio que permite o caminhar e dançar, entre muitos outros sentidos que regulam a atividade sensorial.


A percepção humana pode ser definida, descrita e explicada então, a partir das funções cerebrais em que são atribuídos significados aos estímulos sensoriais recebidos, estando a cargo dessa complexa atuação cerebral o recebimento, a organização e a interpretação desses estímulos a partir de experiências vividas e memorizadas.


 O aluno perceberá o espaço escolar como um refúgio seguro ou não de acordo com as experiências sociais e ambientais vividas ali. O conhecimento é baseado na experiência, nas vivências, na memória e também nas crenças adquiridas ao longo da formação, e sob este contexto, o espaço contribui na configuração do cenário onde todo este aprendizado e desenvolvimento acontecem.


O ambiente é um grande gerador de estímulos e pode-se entender esse mecanismo como sendo de informação ao cérebro sobre o que o cerca através dos sentidos e da percepção. O cérebro, após um complexo e instantâneo processo de reconhecimento e interpretação, reage de forma positiva ou não a esses estímulos captados, o que inclusive pode, muitas vezes,  acontecer de forma inconsciente. Clique nos logos e saiba mais sobre os nossos parceiros:

Segundo Francisco Mora, especialista em neuroeducação, sabe-se por estudos de ressonância magnética que: pessoas com alto nível de ansiedade, estresse crônico e depressão, entre outras doenças causadas pelos muitos ambientes hostis e vida agitada das grandes cidades, possuem uma atividade aumentada em várias áreas cerebrais ligadas ao emocional, como a amígdala que é o detector de medos, perigos e dores e ainda no córtex cingulado responsável por focar a atenção e organizar parte da conduta emocional. Originalmente essas duas áreas cerebrais geram mecanismos que organizam respostas ao estresse e se relacionam muitas vezes de modo inconsciente, podendo assim, influenciar na educação e no aprendizado bem como nos relacionamentos e motivação.


Ele aponta também que toda a percepção gera uma reação emocional, seja ela boa ou ruim, atrativa ou não, de aproximação ou distanciamento, e essa percepção contínua do ser humano não está ausente no edifício, na sala de aula, nos espaços de recreação e nos corredores dos ambientes escolares.


É por meio dos conhecimentos e pesquisas recentes sobre a Neuroarquitetura que dados sobre essas reações estão sendo validados e por consequência começam a impactar e determinar como serão os espaços de ensino e aprendizagem, potencializando por intermédio de sua arquitetura a capacidade de aprendizagem e expressão criativa.


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Com esta citação Severo (2017) descreve a impossibilidade de relação com o novo local e coloca esta intrigante pergunta: De quanto tempo se necessita para habitar um lugar? Dias, meses, anos... qual seria a resposta? Em poucas horas o homem pode sentir-se em casa, mas pode viver também uma vida inteira sem estabelecer nenhuma relação com o espaço que ocupa.


As emoções despertam e mantêm a curiosidade e a atenção e, com isso, o interesse em descobrir tudo o que há de novo, desde uma comida ou um inimigo a qualquer aprendizagem na sala de aula. Emoções, em resumo, são a base mais importante na qual todos os processos de aprendizagem e memória são baseados. (Mora, 2013, p. 65, tradução nossa).

Espaços arquitetônicos possuem inúmeros recursos formais possíveis de serem explorados em projetos, desde suas cores, materiais, formas circulares, retas ou sinuosas, sua iluminação, composição, utilização de elementos regionais, históricos, e inúmeros outros elementos componentes do espaço como o mobiliário e equipamentos disponíveis além da tecnologia empregada no ensino e aprendizagem.


Na base de estudos da Neuroarquitetura encontram-se elementos do design biofílico como a iluminação e a ventilação natural compondo projetos mais salutares, pois a iluminação regula o ciclo circadiano de sono e vigília. Sabe-se que esse ciclo, quando regulado de forma natural e correta, proporciona ao indivíduo maiores condições de bem-estar e desempenho tanto no aprendizado quanto no seu desempenho diário.


Observa-se que essas premissas de valorização de aspectos do design biofílico em projetos começam a fazer parte de projetos destinados ao ensino e à aprendizagem infantil, como é o caso da escola Tomonoki-Himawari situada em Tóquio, no Japão, e projetada pelo escritório Mamm design, onde um grande espaço central conecta todos os demais em um centro que se assemelha aos grandes quarteirões centralizados por uma praça de convívio muito comuns em cidades com Berlim, por exemplo.


O espaço se propõe a estimular a mente das crianças e seu corpo em interações nada tradicionais para uma escola: todos os seus ambientes são organizados em torno de um grande pátio central, uma grande praça cheia de luz e de elementos naturais como texturas de madeira e vegetação.


Sobre a disposição dos espaços ocorre também um novo formato e concepção: os espaços dessa escola não possuem uma atividade definida para seu uso, para permitir aos alunos e professores a liberdade de criar e utilizar os ambientes da forma que convier a cada momento.


Vistas ao exterior, formas orgânicas, cores suaves e texturas naturais são também componentes desse projeto lúdico e inovador, e que se distribui por três andares. A escola conta também com espaços destinados ao refúgio dos pequenos tais como recintos individuais e casinhas simulando estarem fixadas em uma grande árvore que é, na verdade o próprio corpo do edifício.


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"Eu me experimento na cidade; a cidade existe por meio de minha experiência corporal. A cidade e meu corpo se complementam e se definem. Eu moro na cidade e a cidade mora em mim" (PALLASMAA, 2011 p. 38).

Já em outros projetos recentes encontra-se paredes translúcidas e salas de aula com paredes em vidro permitindo o exercício e o trabalho do foco em ambientes cheios de estímulos buscando por meio da arquitetura a formação de um indivíduo acostumado a treinar e aplicar o seu foco na tarefa importante e sem dispersões atencionais que são recorrente na atualidade.


Estimular a criatividade e a interação entre equipes também é uma das premissas de projetos escolares que apresentam grandes espaços de convivência como arquibancadas, espaços de sala de aula integrados com jardins, lounges para relaxamento e descanso, e ainda pequenos nichos individuais para quando a concentração ou isolamento forem necessários no trabalho e aprendizado de exercícios mais focados.

 

Dessa forma, a neuroarquitetura, por meio de espaços com um propósito e das recentes pesquisas na área, busca contribuir para um aprendizado mais eficiente, mais motivador, focado no usuário e nas premissas de que é possível  alcançar melhores resultados em aprendizagem e formação do indivíduo quando estimulado de forma positiva em todos os estágios da vida escolar promovendo interações deste usuário com o espaço em sua forma mais positiva e integrativa.

 

(Trecho adaptado do capítulo  ARQUITETURA E INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA POSITIVA NO CONTEXTO EDUCACIONAL escrito em parceria com a psicóloga Telma Merjane e publicado no livro “Neuroarquitetura, Psicologia e Filosofia: Interfaces da Experiência”, organizado por Lorí Crízel e Marivania Cristina Bocca.) Clique nos logos e saiba mais sobre os nossos parceiros:


Referências:

SUPER AUTOR. 4 Pilares da Unesco: saiba como aplicá-los no seu ano letivo. Rio de Janeiro, 13 jan. 2021. Disponível em: https://superautor.com.br/4-pilares-da-unesco-saiba-como-aplica-los-no-seu-ano-letivo/. Acesso em: 28 jul. 2023.

GONÇALVES, R.; PAIVA, A. Triuno: neurobusiness e qualidade de vida. 2. ed. Joinville: Clube de autores, 2018.

LAWSON, B. Como arquitetos e designers pensam. 4. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.

LIMA, E. Q. et al. Neuroarquitetura: ambientes de ensino. Revista Científica Eletrônica de Ciências Aplicadas da FAIT, ano 3, v. 6, n. 2, 2019. Disponível em: http://fait.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/7EciH3YxjOdjg0c_2020-7-20-17-5-52.pdf. Acesso em: 26 jul. 2023.

LOWDERMILK, T. Design Centrado no Usuário. São Paulo: Ed. Novatec, 2013.

MORA, F. Neuroeducacion: solo se puede aprender aquello que se ama. 1. ed. Madrid: Allianza, 2013.

MORA, P. NeuroArquitetura e Educação: Aprendendo com muita luz. Tradução de Romullo Baratto. ARCHDAILY BRASIL. [S. l.], 23 mar. 2014. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-184224/neuroarquitetura-e-educacaoaprendendo-com-muita-luz. Acesso em: 26 jul. 2023.

PALLASMAA, J. Os olhos da pele: A arquitetura e os sentidos. Porto Alegre: Bookman, 2011.

PEREIRA, M. Projeto de escolas: a arquitetura como ferramenta educacional. ARCHDAILY BRASIL. [S. l.], 25 ago. 2020. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/900627/projeto-de-escolas-a-arquitetura-como-ferramenta-educacional. Acesso em: 21 jun. 2023.017.

 

 

Nossa colunista: Miriam Runge Arquiteta e Urbanista, possui MBA em Neurobusiness, Master em Neuroarquitetura, é especialista em Design de Mobiliário e Docência para o Ensino Superior. Criadora e ministrante do Método Sensory e do método DESVENDARQ que une Neuroarquitetura e Gestão Estratégica para a aplicação em escritórios. Membro do comitê de Arquitetura da NeuroBusiness Society Brasil.


Docente convidada em pós-graduação onde ministra aulas sobre Neurociência na arquitetura (PUC), Neuromarketing e Neurobusiness, Materiais e Revestimentos e Gestão de Escritórios (IPOG) entre outras instituições.


 Criadora e ministrante do 1º curso de Gestão e Planejamento do Escritório de Arquitetura no RS.


Desde 1998 comanda a MRUNGE ARQUITETURA com 10 participações em Casa Cor RS sendo premiada diversas vezes. Possui trabalhos publicados em várias edições do livro ELITE DESIGN e no anuário da AAI-RS, bem como em diversas revistas de abrangência nacional. Sua atuação envolve a arquitetura residencial, comercial, para a saúde e arquitetura temática ligada aos parques da região da serra gaúcha onde atua com a aplicação de recursos da Neuroarquitetura.

Possui clientes em diversos estados como São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Goiás Paraná e Pernambuco.


Pesquisadora na área de neurociência aplicada à arquitetura através do uso de aparelhos de medição de estímulos corporais como eye tracker e BITalino, é apaixonada por tecnologia e inovação em projetos com foco em resultados além da estética, acreditando que a Neuroarquitetura pode contribuir para a construção de um mundo melhor para todos.

 
 
 

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